O típico gado
piauiense, mais conhecido como pé-duro, receberá o certificado de
reconhecimento da raça pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa). O acontecimento será formalizado no próximo dia 20 de março, na
Delegacia do Mapa no Piauí.
O presidente da
Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Curraleiro Pé-Duro (ABCPD),
Guilherme Melo, compareceu à sede da Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Rural (SDR), para formalizar o convite ao secretário Rubem Martins para
participar da solenidade.
O decreto do
ministro Mendes Ribeiro Filho, será um marco na história do Estado, que terá de
fato o gado pé-duro como uma raça genuinamente piauiense.
A origem do bovino da
raça pé-duro.
Quando os colonizadores Ibéricos chegaram a terras
americanas, depararam com uma fauna e flora diversa da existente na Europa e
outras colônias da África e da Ásia. Juntamente com as famílias de
colonizadores, vieram diversas espécies de animais domésticos com a finalidade
de auxiliar o homem na sua árdua tarefa de desbravar e assegurar o domínio
sobre o "Novo Mundo" que então se descortinava. Dentro dessa
premissa, destacaram-se os bovinos, que forneceram couro, leite, carne e
trabalho aos nossos antepassados, colaborando sobremaneira para a exploração e
desenvolvimento das novas colônias.
O Pé-Duro é o primeiro animal a ser reconhecido como
patrimônio cultural.
Essa “novidade” também pegou de surpresa o Conselho Estadual de Cultura,
instância que delibera se algo será ou não reconhecido como patrimônio cultural
do Piauí.
- Foi um impasse. O Conselho ficou dividido meio a meio. Mas também é uma
coisa muito nova, não estava no cotidiano dos registros de patrimônio. Mas
agora virou da dúvida para a certeza. Todo mundo está querendo - relata Mendes.
Fruto do cruzamento de várias raças no começo da colonização brasileira, o
Pé-Duro é considerado uma das raças mais antigas do país. Foi a raça que melhor
se adaptou ao ambiente hostil e tórrido da caatinga, onde via de regra, as
pastagens de baixa qualidade, imperam a seca e o calor.
Dócil, acompanhou colonos e posseiros durante toda a formação do que
posteriormente viria a ser o Estado do Piauí, inclusive durante o ciclo do
gado, quando o Estado era o maior produtor nacional de carne.
Porém, como a maioria das raças bovinas brasileiras naturalizadas, passou a
ser substituída por outras matrizes genéticas, que prometiam maior
rentabilidade.
Hoje, o gado Pé-Duro sobrevive no Estado
basicamente pelo esforço do núcleo de preservação da Fazenda Experimental
Octávio Domingues, pertencente à Embrapa, na região de São João do Piauí, e da Associação Brasileira de Criadores de Gado Pé-Duro,
que reúne 32 membros com um rebanho de mais de mil cabeças.
Em processo de extinção, o gado Pé-Duro deixa
gradativamente de ser uma referência cultural no Piauí. “Nas obras de vários
artistas aqui do Estado não tem o gado Pé-Duro, e sim o Boi Zebu. Mas era o
gado Pé-Duro que acompanhava o tempo todo o nossos vaqueiros”, conta Patrícia
Mendes.
O registro como patrimônio cultural do Estado vai fazer não apenas criar
mecanismos de proteção para o animal, como também estimular pesquisa na área e
gerar incentivos fiscais para os criadores.
- É a nossa identidade cultural. A nossa
população tem que se ver um pouquinho, se apropriar daquilo que é seu. E isso
ainda está faltando aqui. Afinal, cultura é isso: é tudo que a gente produz ao
longo do tempo. De geração para geração. O vaqueiro, a vida do produtor, as
casas de fazenda, toda a relação das pessoas com o animal [Pé-Duro].
Tudo isso faz parte da nossa cultura - ensina a coordenadora de Registro e
Conservação do Piauí.
(fotos: Patrícia Mendes/ Coordenação de Registro e Conservação/ FUNDAC)
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